
Vô Mario... Hoje...Queria voltar àquela pequena sala, onde sentavas comigo calmamente e atrasavas o teu trabalho para eu pensar que estava a te ajudar... ao baixar a alavanca, que terminava aquelas pequenas peças, que hoje nem sei para que serviam, porque no fundo, o importante era estar ali, contigo, no meu mundo imaginário, com aquele Super-Homem que me protegia de todos. Ali, contigo, ou em qualquer lugar estava protegida e tinha certeza da alegria... Mas o dia chegou, você adormeceu em um sono tranquilo e dele não acordou...naquela antiga casa da Lapa, numa descida... Onde ficou tão pouco tempo... queria poder ter tido tua presença por mais tempo, sei que me darias a mesma segurança sempre... Ou não sei se é o dia de hoje que me traz essa necessidade. Queria que tivesses segurado teu bisneto no colo, mesmo ele nem estando na minha barriga ainda, queria que tivesses vivido tudo comigo. Eras único... Para mim, talvez a neta com mais sorte, a que mais lembranças tem a que mais tempo passou contigo...resta uma saudade eterna do Velho Mário... Do meu Universo Imaginário...que prosseguiu em tão boas mãos, de Uma mulher chamada Wilma... Eternas Saudades também Vovó... dos castelos construídos com lençóis e cadeiras na sala de jantar, de dormir contigo e ficar atenta a tua respiração, num medo imenso que adormecesses como o vovô. Será que algum primo sentiu isso também... Ou só eu quando ia dormir contigo, passava as noites em claro...a ouvir o inspirar e expirar e a cronometrar atentamente para que não parasse, com medo de mais essa perda... Porque com vocês estava segura... você era a Super-Mulher. E deixava, nós, os netos, correrem, com os papagaios (pipas) coloridas que fazia, daquela tua forma tão simples de ser. A minha nunca voava, lembra? Eu não sabia fazer voar, todos conseguiam menos eu e você ia lá e fazia ela voar... E o velho Apache a correr connosco nas nossas brincadeiras de super-heróis, de esconde-esconde, de pega-pega... Estávamos protegidos, naqueles corredores, naquela varanda, naquela casa... protegidos das nossas próprias vidas... Chegava a ser triste voltar pra casa!!! Preferia estar ali, segura e feliz!!! Afinal os castelos começam a ser construídos...sem sabermos exactamente quando irão cair, mas eu sabia, já naquele tempo que ia cair...Por isso nada melhor do que estar ali. Você também foi Dona Wilma, Velhinha, de uma forma muito mais dolorosa e lenta... Mas eu não me esqueço, uma semana antes de ires, no dia que voltei para Portugal, era de manhã cedo, ia para o aeroporto... fui ao teu quarto, nem a enfermeira estava acordada, você olhou para mim, me reconheceu e disse: "Priscila, minha neta, nunca se esqueça: Eu te amo!" Será que algum dia contei isso a alguém? Será que o vazio de hoje me levou até vocês e me preencheu desta maneira? Não sei... Saudades meus amados avós...Obrigada, o tempo foi cruel, vocês não viram muita coisa... Mas ficou a lembrança e a saudade. Amo vocês Véio Mário e Véia Wilma :o))